Abandonado

“Abandonado” são imagens de lugares e objectos abandonados ao longo do tempo, que em silencio guardam segredos da sua origem e do seu passado. Espaços e objectos outrora repletos de sons, cheiros e vida são agora apenas uma recordação visual e melancólica da sua historia por contar.


Imagens de lugares que com o passar do tempo têm algo de mágico e misterioso, não são apenas uma carcaça são parte da envolvencia de um lugar.










A mulher mais cansada do mundo



"Sou a mulher mais cansada do mundo. Fico cansada assim que me levanto. A vida requer um esforço de que me sinto incapaz. Por favor passa-me esse livro pesado. Preciso de pôr qualquer coisa pesada sobre a cabeça. Necessito constantemente de pôr os meus pés sob almofadas para que consiga continuar na terra. De outro modo sinto-me partir, partir a uma velocidade tremenda, tão leve me sinto. Sei que estou morta. Logo que pronuncio uma frase a sinceridade morre e torna-se numa mentira cuja frieza me gela. Não me digas nada, vejo que me entendes, mas tenho receio dessa compreensão, tenho medo de encontrar alguém semelhante a mim e ao mesmo tempo desejo-o. Sinto-me tão definitivamente só, mas tenho tanto medo que o isolamento seja violado e eu não seja mais o cérebro e a lei do meu universo. Sinto-me no grande terror do teu entendimento, meio por que penetras no meu mundo; e que, sem véus, tenha então que partilhar o meu reino."  Anaïs Nin

Algarve 2013






































Gibraltar 2013

A vida do homem dura em média oitenta anos


A vida do homem dura em média oitenta anos. É contando com esta duração que cada um imagina e organiza a sua vida. O que acabo de dizer é uma coisa que toda a gente sabe, mas raramente nos damos conta de que o número de anos que nos é atribuído não é um simples dado quantitativo, uma característica exterior (como o comprimento do nariz ou a cor dos olhos), mas faz parte da própria definição do homem. Alguém que pudesse viver, com toda a sua força, duas vezes mais tempo, portanto, digamos, cento e sessenta anos, não pertenceria à mesma espécie que nós. Já nada seria semelhante na sua vida, nem o amor, nem as ambições, nem os sentimentos, nem a nostalgia, nada. Se um emigrado, depois de vinte anos vividos no estrangeiro, regressasse ao país natal com cem anos de vida ainda à sua frente, pouco experimentaria da emoção de um Grande Regresso, provavelmente para ele isso nada teria de um regresso, não passando de mais uma das voltas do longo percurso da sua existência.

Porque a própria noção de pátria, no sentido nobre e sentimental da palavra, liga-se à relativa brevidade da nossa vida, que nos proporciona muito pouco tempo para que nos apeguemos a outro país, a outras línguas.

As relações eróticas podem preencher toda a vida adulta. Mas se essa vida fosse muito mais longa, não asfixiaria o cansaço a capacidade de excitação, muito antes de as forças físicas declinarem? Porque há uma enorme diferença entre o primeiro, o décimo, o centésimo, o milésimo ou o décimo milésimo coito. Onde fica a fronteira para lá da qual a repetição se tornará estereotipada, senão cómica, ou até impossível? E transposto esse limite, em que se transformará a relação amorosa entre um homem e uma mulher? Desaparecerá? Ou pelo contrário, considerarão os amantes a fase sexual da sua vida a pré-história bárbara de um verdadeiro amor? Responder a estas perguntas é tão fácil como imaginar a psicologia dos habitantes de um planeta desconhecido.
A noção de amor (de grande amor, de amor único) nasceu, também ela, provavelmente, dos estreitos limites do tempo que nos é dado.

Milan Kundera in A ignorância, 2000.

JIM | COMPANHIA PAULO RIBEIRO

Coreografia e Direcção Paulo Ribeiro
Música Indigo de Bernardo Sassetti; An American Prayer(álbum) e Spanish Caravan de The Doors 
Colaboração e assistência musical Miquel Bernat

vídeo Fabio Iaquone e Luca Attilii
Desenho de luz Nuno Meira
Figurinos José António Tenente
interpretação Anna RétiCarla Ribeiro, Leonor Keil, Sandra Rosado, Avelino Chantre e Pedro Ramos
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL Paulo Ribeiro
Operação de luz Cristóvão Cunha
Operação vídeo Tomás Pereira

"Seduzido pela força da poética de Jim Morrison, um dos ícones mais irreverentes da década de 60, e pelo seu An American Prayer, disco póstumo, o coreógrafo Paulo Ribeiro deixou-se conduzir pelas palavras e pela espiritualidade do músico para reflectir sobre o lugar de cada indivíduo na relação com o mundo e sobre o lugar da dança. Fiel no respeito pelo universo de Jim Morrison, mas desprendido no resgate de uma interioridade em perigo iminente, construiu uma peça alicerçada na necessidade de cada um se repensar como coletivo e de ter tempo para se ouvir. Embebida pela vontade de romper e de transformar, a peça é habitada por sensações que se constroem e desconstroem, que orbitam em redor de uma época, de uma política, de um abandono, de uma preocupação, mas também de algo festivo e de uma Humanidade vigorosa. Cúmplice de Morrison, mas emancipado no jogo dos corpos, Paulo Ribeiro contraria o que chama de aniquilamento interior, alimentado pelo fantasma da insustentabilidade de um mundo; provoca a apologia do colectivo e semeia alguns acidentes benévolos, feitos para agitar a percepção de quem assiste, bem ao jeito da sua dança orgânica e activa. 
Para o nosso querido Bernardo Sassetti...
Com um pensamento muito terno!"


Paulo Ribeiro






Rio Judeu




"The best part of beauty is that which no picture can express."
Francis Bacon